Cuidadores - solidão, stress e relações com significado
Cuidar por longos anos de um ente querido que vive com demência não é fácil. Não estamos preparados para tal de uma forma geral.
A solidão pode afetar não só, as pessoas que vivem com a progressão de processos neurodegenerativos, mas também os quantos que se investem do papel de cuidar.
Embora a ciência não nos dê certezas, ela reduz a incerteza, pelo que selecionámos este artigo, do qual extraímos e traduzimos algumas ideias. Pareceu-nos bastante ilustrativo relativamente a alguns fatores que podem contribuir para a experiência da solidão nos cuidadores familiares.
Solidão
A solidão pode ser emocional ou social. A primeira, prende-se com a perceção de falta de qualidade nas relações (sou compreendida/o? sou escutada/o? posso expressar-me? sinto-me íntimo de alguém? tenho alguém a quem recorrer?...) e a segunda, com a quantidade de relações, ou seja, com a perceção de um tecido social em erosão ou não.
A solidão encontra-se relacionada com a vivência de ansiedade, problemas de saúde mental, risco de desenvolver doenças crónicas, impacta na qualidade de vida, bem-estar e constitui fator de risco para a mortalidade precoce.
Sobre o papel do cuidador informal
Com o envelhecimento da nossa população, e embora o estudo crie enfoque no UK, sabemos que o fenómeno do envelhecimento é global. Estima-se que que o número de cuidadores informais aumente e este grupo, é identificado no UK, como vulnerável para a experiência da solidão.
Sobre o estudo em referência
Incluiu 1283 cuidadores familiares de pessoas que foram diagnosticadas com demência em estádios ligeiros e moderados.
Os cuidadores responderam a um conjunto de questionários que proporcionaram recolher informação sobre as seguintes medidas: solidão, satisfação com a vida, bem-estar, qualidade da relação, isolamento social, sintomas depressivos e stress.
Alguns indicadores
81% dos cuidadores respondentes tinham relação conjugal com a pessoa com demência e 3%, viviam sozinhos.
38,6% dos cuidadores não reportaram solidão, 43,7% reportaram solidão moderada e 17,7% reportaram solidão severa.
Os autores sublinham o facto de a prevalência da solidão moderada e severa, encontrada no grupo de cuidadores do projeto que levaram a cabo (62%), é mais alta que aquela que é reportada pela população em geral de meia-idade e para além desta (nos países passíveis de se proceder a esta comparação).
Dos que reportaram solidão, apresentavam (quando comparados com os que não reportaram solidão):
-redes sociais restritas;
-fraca qualidade na relação com o cônjuge;
-pouca satisfação com a vida e bem-estar;
-sintomas depressivos e stress relacionado com o cuidado.
Fatores preditores da experiência de solidão moderada e severa:
-isolamento social – os respondentes mais isolados socialmente tinham redes sociais mais limitadas de amigos e família;
-o stress relacionado com o cuidado, incrementou a probabilidade de experimentar solidão e baixos níveis de bem-estar, tendo sido o stress, identificado como um fator importante na predição da solidão moderada e severa.
A qualidade da relação com o cônjuge foi identificado como um fator protetor - cuidadores que reportaram uma maior qualidade na relação, apresentaram um risco mais baixo de sentir solidão moderada e severa.
“Interventions aimed at reducing caregiving stress and supporting meaningful relationships may go some way towards helping to reduce loneliness.”
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Para a leitura completa do artigo, visite a referência.
Christina R. Victor, Isla Rippon, Catherine Quinn, Sharon M. Nelis, Anthony Martyr, Nicola Hart, Ruth Lamont & Linda Clare (2021) The prevalence and predictors of loneliness in caregivers of people with dementia: findings from the IDEAL programme, Aging & Mental Health, 25:7, 1232-1238, DOI: 10.1080/13607863.2020.1753014
Palavras chave: cuidadores, solidão, relações significativas, gestão de stress, demência
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